Tuesday, March 22, 2005

Por falar em poesia...

ou sobre o que é a psicoterapia...
bxz,
fiona bacana


A fábrica do poema
by Adriana Calcanhoto

SONHO O POEMA DE ARQUITETURA IDEAL
CUJA PRÓPRIA NATA DE CIMENTO ENCAIXA PALAVRA POR PALAVRA,
TORNEI-ME PERITO EM EXTRAIR FAÍSCAS DAS BRITAS E LEITE DAS PEDRAS

ACORDO;E O POEMA TODO SE ESFARRAPA, FIAPO POR FIAPO
ACORDO;O PRÉDIO, PEDRA E CAL, ESVOAÇACOMO UM LEVE PAPEL SOLTO
À MERCÊ DO VENTO E EVOLA-SE,
CINZA DE UM CORPO ESVAÍDO DE QUALQUER SENTIDO
ACORDO, E O POEMA-MIRAGEM SE DESFAZ
DESCONSTRUÍDO COMO SE NUNCA HOUVERA SIDO.

ACORDO! OS OLHOS CHUMBADOS PELO MINGAU DAS ALMAS
E OS OUVIDOS MOUCOS,
ASSIM É QUE SAIO DOS SUCESSIVOS SONOS:
VÃO-SE OS ANÉIS DE FUMO DE ÓPIO
E FICAM-ME OS DEDOS ESTARRECIDOS.
METONÍMIAS, ALITERAÇÕES, METÁFORAS, OXÍMOROS
SUMIDOS NO SORVEDOURO.

NÃO DEVE ADIANTAR GRANDE COISA PERMANECER À ESPREITA
NO TOPO FANTASMA DA TORRE DE VIGIA
NEM A SIMULAÇÃO DE SE AFUNDAR NO SONO.
NEM DORMIR DEVERAS.

POIS A QUESTÃO-CHAVE É:SOB QUE MÁSCARA RETORNARÁ O RECALCADO?

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