Sunday, April 17, 2005

"Todos nascemos com uma doença mortal, que é a Vida"

(...)
"Comer da árvore do conhecimento significa, ao mesmo tempo, sermos capazes de entrar em conflito aberto com a Ignorância. E a Ignorância, como figura mitológica do nosso mundo interior, representa justamente aquilo com que nos confundíamos, o que nos assegurava o Paraíso, mas que excluía dele, ao mesmo tempo, a possibilidade da experiência do conhecimento. Por outro lado, conseguirmos levar a bom termo esse conflito aberto, é a condição para que mais tarde se possa ver na ignorância a companheira mais inspiradora e mais serena do conhecimento. Poderia dizer-se, de outro modo, que nascer é a única coisa arriscada da vida, e não acabamos nunca de nascer.
Se as portas do Paraíso estivessem sempre abertas, ninguém faria coisa nenhuma, os homens não poderíam progredir. Aqueles para quem as portas do Paraíso estão sempre abertas, estão nos hospitais psiquiátricos, que só servem para nos guardar dos loucos, são o «no man`s land» da cultura. São uma espécie de reconhecimento oficial de que aqueles que escolhem a fusão com o divino se excluem, por isso mesmo, do reino dos homens. São os que pensam que estão em contacto com Deus e que Dele são enviados à terra,
As portas do Paraíso são para se fechar, para depois cada um de nós pensar numa forma de as abrir, através da criação, através da poesia, através da ciência."


Carlos Amaral Dias
João Sousa Monteiro
in "Eu já posso imaginar que faço"

1 comment:

Anonymous said...

Um agradecimento especial ao kiki por 1 prenda tão...mortal!

fiona bacana