Monday, August 22, 2005

So how does it feel to be 29?

Ressaca de aniversário. Relativizando (que remédio!) o facto de fazer anos numa altura em que meio mundo anda em trânsito para outras paragens. Agosto no Porto, este ano, teve o seu charme. E à noite muito mais. Parece ainda mais bucólico, mais maniento, há uma espécie de sentimento colectivo de empatia entre 'sobreviventes de agosto no porto'. Um timbre pardacento, mas tão próprio como os ritmos espaçados calor/nortada.

Das férias passadas em clínica de desintoxicação, deixarei aqui as minhas notas brevemente, assim que consiga harmonizá-las (ou então não), solidificá-las (ou então não) e partilhá-las (ou então não).

Para já, a resposta à pergunta: como é ter 29?

O pior, digo eu, já passou. Para quem nunca esperou viver para além dos 21, é muita dose. Para quem renasceu de uma morte anunciada aos 23, é reconfortante saber que há vida para além da dita cuja. Para quem ressuscitou aos 27, é securizante por um lado, aterrador por outro. Securizante porque soube recuperar os 2 anos da minha vida deitados ao lixo, deixando só bem presentes as marcas do que é regressar do mundo dos mortos, para não voltar a desvalorizar o poder das coisas insignificantes. Aterrador porque me aumenta a responsabilidade: já tenho lições de vida suficientes para não me deixar cair na, digamos assim, primeira esparrela.

Agora, com 29, sinto-me mais tranquila. Mais em paz. Sem desenganos: não é uma paz inabalável, como será qualquer uma que seja verdadeira. Algures no processo de rehab, sem o telemóvel, sem o relógio, sem os brincos e sem as pulseiras, com os pés descalços, sem velas nem incensos, sem internet nem jornais, encontrei-me no mutismo sem estar muda. Percebi que os próximos tempos não vão ser fáceis. A vertigem da mortalidade, sobretudo da mortalidade imposta pelos caminhos normativos, é inebriante. Resta-me aceitar e ter esperança, lutar com as minhas armas, e tentar acreditar que há algum tipo de sentido para isto. Eu é que não estou a ver. Nada de brilhante, Schoppenhaur já tinha dito o mesmo.

Mas voltarei a isto mais tarde.

Só que a pergunta martelou e veio a resposta sob forma de música de cd no carro à ida para a praia ao final da tarde:

But time is on your side
It's on your side now
Not pushing you down and all around no
It's no cause for concern

Coldplay, Amsterdam

by fiona bacana

1 comment:

Anonymous said...

Muitos parabéns.

Não te deixes enganar por essa calma aparente dos 29 :)