Tuesday, May 03, 2005

Do supermercado de comunicações

Longo caminho percorreste. Das doc martens, calças rasgadas e camisa de flanela aos quadrados ao fatinho em cor escura com risquinhas mais claras, tudo muito standard. Vá lá, consegues ainda manter uma ou outra marca distintiva, um relógio com as curvas de um rabo em contra fundo, só para meter nojo. Ou a pulseira que no verso tem escrito ‘fuck you all’, guardada religiosamente desde os tempos da peste negra, vulgo guerra 14-18 – e que utilizas em alturas estratégicas. É esta a pulseira que te dá a calma que toda a gente estranhiza. ‘Não estás nervosa?’. Não, na realidade não estás. Sabes o que isto é. Em terra de académicos, quem tem um bocadinho de síntese é rei. Chamam-lhe supermercados de comunicações…

Não é falta de humildade. Percebo, de facto, que percorri um caminho bem sinuoso. E não por ser absolutamente geniosa. E não pela capacidade de sacrifício. É pela obsessão pelo conhecimento. As mesmas características que me fazem acordar a meio da noite a ponderar variáveis. A procurar ansiosamente o bloco de notas que guardo na mesinha de cabeceira. Ou as mesmas características que me fazem ter uma taquicardia, 8 da manhã, vinda da noite. Por causa de alguma coisa que alguém me disse, acidentalmente, e sem qualquer tipo de intenção de contribuir para o meu postulado científico.

Esta brincadeira está a ficar cara de mais. Já olho ao espelho e, entre a sensação de crescimento, sinto-me a prostituir. Como é que vou para uma sala com 50 pessoas e faço aquela postura de supra sumo da barbatana? Logo eu, que não sei a ponta de um corno e ao menos tenho consciência disso. Mas como é que ninguém ainda descobriu?!

E confirma-se. A minha ansiedade é directamente proporcional à percepção de controlo. Parece DAH, não parece? Não, é tudo menos DAH. Eu fico ansiosa, DEPOIS das comunicações.

DEPOIS?!

DEPOIS.

DEPOIS, que é quando eu sinto que já não há nada a fazer. Que prática sou, hein?

by fiona bacana

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