Seguindo a fórmula da razoabilidade 'relação qualidade-preço', as vantagens instituicionais de trabalhar numa organização tida como incontornável (eles lá saberão porquê...) e e as sugestões sempre pertinentes de quem me rodeia, resolvi dar um giro num novo ginásio em expansão. Daqueles que nos fazem esquecer que estamos numa cidade em formato de caixa de fósforos.
Ginásio super-hiper-mega-uau, vidros foscos, tudo muito clean. Dirijo-me à recepção. "Preencha este formulário ali no nosso bar que alguém da nossa equipa já vai lá ter consigo". Não tinha sequer acabado de preencher o nome (pronto, está bem, já sei que é comprido...), tinha uma jovem de óculos de massa grossa de côr vermelha, ar muito profissional, vinda directa de um qualquer episódio dos Morangos com Açúcar, a olhar para mim. Aproxima-se e diz-me: "Posso?". Quando se preparava para debitar a lenga-lenga comercial, olha para mim e lança a frase assassina: «Eu conheço-a!Não é a...». Olho para a placa e leio-lhe o nome. Torna-se evidente o pesadelo de qualquer psicólogo: reencontrar um ex-cliente.
Os próximos segundos foram mutuamente embaraçosos. À minha cabeça, chegavam pedaços de informações, avaliação e linhas de intervenção, enquanto respondia que o RPM a mim não me interessava, eventualmente body pump e body balance. Que valorizava essencialmente a flexibilidade de horário e a limpeza das instalações (pronto, chamem-me anti-social e anancástica).
Depois, como ao que parece é da praxe, fomos dar uma volta pelo ginásio. Primeiro olhámos para a piscina, que não tem pastilha no fundo, diz que o inox é mais limpo e não precisa de tanto cloro. Descemos então as escadas e aí começou a verdadeira tortura. "Então, por cá?", para uns metros mais à frente dar de caras com um "Oh Drª, espero por si nas minhas aulas para me vingar de si, ok?!". Mais à frente, um pai de camisa caveada com Throttleman escrito em letras grandes: "Olhe, o F. está óptimo, está com óptimas notas!".
Ainda não refeita deste circo de constrangimentos, a rapariga dos óculos de massa grossa de cor vermelha, indica-me o caminho dos balneários. E eu a rezar para não encontrar ninguém. Era a cereja em cima do bolo: encontrar alguém do trabalho nos balneários, fazendo conversa circunstancial enquanto a pessoa nuínha se ia secando com a toalha. Felizmente esse surto Ally McBeal foi apenas um delírio. Porque eu encurtei a visita ao balneário. Estratégica e subtilmente.
Alimentada pela leveza do alívio da inexistência de algo profundamente embaraçoso, tipo imaginar como seria encontrar a pessoa novamente no trabalho, subo as escadas. Mas era pedir muito não olhar para o lado e ver um Director encharcado em suor, com os óculos embaciados: "Espero vê-la por cá!".
Lamento, não tenho estômago para isto. Trabalho é trabalho...ginásio é ginásio. Prefiro o meu ginasiozinho de província que fecha às 23h. Aí, ao menos, sou orgulhosamente anónima e estão-se borrifando para a instituição tida como incontornável.
by fiona bacana
ps: um agradecimento profundo e sentido à coragem da rapariga dos óculos de massa grossa de cor vermelha que me deu um free pass para experimentar, sem compromisso, durante 30 dias. Eternamente grata, mas ainda em stress pós-traumático, ofereço o dito cujo free pass ao primeiro que me pedir.
Tuesday, July 26, 2005
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