Wednesday, August 31, 2005

"How much is left"?!

Ficou em ti tanto como em mim. Desejo-te o que planeio para mim: ressureição.
Ainda assim, obrigada pelo presente (e pelo passado também), obrigada pela música.

by fiona bacana

Tuesday, August 30, 2005

Easy like sunday morning, Step 3

Volta e meia sinto um sufoco que me aperta, aperta bem apertadinho na minha garganta. Os sinais são fáceis de notar: começo a perder skills sociais. Já não tenho pachorra para atender o telemóvel, olho para ele a tocar e simplesmente não atendo (porque não me apetece). Não se trata (gostaria eu!) de uma qualquer posição de fundo do género não gosto que invadam a minha privacidade assim de forma tão contundente e abrupta. Depois começo a ter dificuldade em ser tolerante com as obrigações sociais - do género de custar responder a um simples bom dia. O sorriso social, uma alavanca tão extraordinária, passa a ser difícil de executar. E aí só me apetece pegar no carro e fugir. E desapareço, nem que seja por um só dia.

Durante anos questionei-me sobre este hábito. Porque, na realidade, mal desapareço, começo a pensar nas pessoas que me rodeiam. Então, what the fuck for? Aceitei, e felizmente aceitaram à minha volta, que faz parte de mim. Não é defeito, é feitio.

No entanto, tenho de voltar à raíz da coisa. E descobri no processo de rehab, que mais do que a linearidade vontade de fugir - evitamento, esta resposta surge tão somente quando os custos de alteração do cenário ameaçador são maiores do que os custos de manutenção. É como se viesse à superfície para respirar, recuperar o fôlego para voltar a mergulhar. Aceitei, portanto, que há coisas que não posso mudar e que me incomodam. E, antes que me confrontem com a minha eventual inconsistência economicista, torne-se claro que os custos de que falo são necessariamente emocionais, subjectivos, intangíveis - só são custos porque eu os vejo como tal.

Interrogo-me, agora, sobre os custos que este mecanismo tem numa vida a dois. O conhecimento tácito, e o reconhecimento do outro em mim, há-de salvar a pele das acusações de distanciamento, evitamento e fuga.

Hopefully.

by fiona bacana

Monday, August 29, 2005

And who am I to disagree?

«All paid jobs absorb and degrade the mind».

Aristóteles (384 A.C. - 322 A.C.)

by fiona bacana

ps: tenho as sandálias na mala do carro para as calçar nos intervalos....

Saturday, August 27, 2005

Paul Auster, ou...

como às vezes compensa ser autora medíocre para nos oferecerem destas coisas, um livrinho via correio como lembrança de aniversário não faria parte das exigências do mais sindicalista dos trabalhadores...

Abro, à sorte, uma página, enquanto martelo o pensamento 'Paul Auster, Paul Auster, serás tu outro Paulo Coelho?!!!', seguido de um arrepio frontal ao pensar neste último (desculpem, é a minha embirração mais pessoal).

«Pensando na amizade e, em particular, em como algumas amizades se mantêm e outras não, lembro-me do facto de só ter tido quatro pneus furados desde que conduzo, e que, em cada uma dessas ocasiões, estava no carro com a mesma pessoa.»

Hmm. Faz algum sentido.

Obrigada pela gentileza.

by fiona bacana

Stockholm syndrome (Step 2)


«this is the last time I'll abandon you
and this is the last time I'll forget you»

Muse, 'Stockholm Syndrome' - Absolution

Em 1973, 4 reféns suecos, encarcerados num cofre de banco durante seis dias, aliaram-se aos seus raptores, receando a intervenção do corpo policial. A partir dessa data, essa aparentemente estranha aliança, passou a chamar-se de síndrome de estocolmo - tido como uma forma de sustentação inconsciente de violência (como se merecessem estar ali).

E eu, recebendo com surpresa a profundidade da descoberta, olho estarrecidamente à volta e para dentro. Constato. Reflicto. Refém ou terrorista?

by fiona bacana

(foto de férias, um luar radiante que iluminou o processo de detox)

Monday, August 22, 2005

So how does it feel to be 29?

Ressaca de aniversário. Relativizando (que remédio!) o facto de fazer anos numa altura em que meio mundo anda em trânsito para outras paragens. Agosto no Porto, este ano, teve o seu charme. E à noite muito mais. Parece ainda mais bucólico, mais maniento, há uma espécie de sentimento colectivo de empatia entre 'sobreviventes de agosto no porto'. Um timbre pardacento, mas tão próprio como os ritmos espaçados calor/nortada.

Das férias passadas em clínica de desintoxicação, deixarei aqui as minhas notas brevemente, assim que consiga harmonizá-las (ou então não), solidificá-las (ou então não) e partilhá-las (ou então não).

Para já, a resposta à pergunta: como é ter 29?

O pior, digo eu, já passou. Para quem nunca esperou viver para além dos 21, é muita dose. Para quem renasceu de uma morte anunciada aos 23, é reconfortante saber que há vida para além da dita cuja. Para quem ressuscitou aos 27, é securizante por um lado, aterrador por outro. Securizante porque soube recuperar os 2 anos da minha vida deitados ao lixo, deixando só bem presentes as marcas do que é regressar do mundo dos mortos, para não voltar a desvalorizar o poder das coisas insignificantes. Aterrador porque me aumenta a responsabilidade: já tenho lições de vida suficientes para não me deixar cair na, digamos assim, primeira esparrela.

Agora, com 29, sinto-me mais tranquila. Mais em paz. Sem desenganos: não é uma paz inabalável, como será qualquer uma que seja verdadeira. Algures no processo de rehab, sem o telemóvel, sem o relógio, sem os brincos e sem as pulseiras, com os pés descalços, sem velas nem incensos, sem internet nem jornais, encontrei-me no mutismo sem estar muda. Percebi que os próximos tempos não vão ser fáceis. A vertigem da mortalidade, sobretudo da mortalidade imposta pelos caminhos normativos, é inebriante. Resta-me aceitar e ter esperança, lutar com as minhas armas, e tentar acreditar que há algum tipo de sentido para isto. Eu é que não estou a ver. Nada de brilhante, Schoppenhaur já tinha dito o mesmo.

Mas voltarei a isto mais tarde.

Só que a pergunta martelou e veio a resposta sob forma de música de cd no carro à ida para a praia ao final da tarde:

But time is on your side
It's on your side now
Not pushing you down and all around no
It's no cause for concern

Coldplay, Amsterdam

by fiona bacana

Made in Japan

«As minhas explosões assustam-me. Os olhos raiados de vermelho fúria, cinza gelo, a face tensa ao ponto de alinhar caninos. Deve ser isto, deve ser isto o que se sente um homicida. Nunca pensei conseguir matar alguém, hoje já não tenho essa certeza.»

by fiona bacana

Sunday, August 14, 2005

Pausa na pausa

Tal como prometido, aqui vai uma das ilações do meu processo de desintoxicação: preciso de isolamento. Preciso. Seja por defeito de educação, seja por necessidade higiene mental. Seja por questões conjecturais. Seja.
A primeira semana de rehab correu lindamente, mesmo com os suores frios necessariamente associados. O problema foi constatar que quanto mais tempo passava, menor era a vontade de interagir socialmente. E quando isso aconteceu, parecia uma imberbe social, atrapalhada, com dificuldade em articular discurso.
Agora, saio da clínica de desintoxicação, e a grande tarefa é mesmo de sociabilização. As minhas férias bacardi. Ao menos que esta vila, deliciosamente piscatória como nenhuma, já tem cyber cafés por todo o lado!

Até à próxima (não faço a menor ideia quando...)

fiona bacana

ps: desculpem o post minimalista mas as moedinhas aqui em cima da mesa estão a desaparecer à velocidade da luz

Monday, August 08, 2005

ferias

tambem fui...nem um teclado portugues tenho no algarve...mandem bocas! logo logo voltamos...ate um dia!!

Sean Bacana

Saturday, August 06, 2005

Pausa

Parto de férias como quem parte para uma clínica de desintoxicação.
Mandarei postais para aqui, como forma de registar, egocentricamente, a minha reacção aos twelve-steps em 23 dias.

Até lá...

fiona bacana

Friday, August 05, 2005

Às paredes confesso











Tenho um fascínio por escadas. Não meramente por razões biográficas, embora as escadas tenham sido uma constante nos cenários de episódios mais ou menos marcantes da minha vida.
De máquina em punho ou retiradas da net, tenho uma colecção de fotos de escadas.

A pergunta que se segue, então, é a seguinte: porquê este fascínio com escadas?

Simples: é um constant reminder de que o que nos faz descer, também nos pode fazer subir.


by fiona bacana

De matar

Eu tenho pena. E dói. Custa-me abdicar de ti. E gostava de não ser assim contigo, gostava de não ter necessariamente de fazer-te isto. Provavelmente, gostaria também de ter argumentos para te matar, assim, metaforicamente. Se me perguntassem se gostava assim de ti, diria que não. Um contundente e rotundo não. E por isso te mato. Não tenho espaço para acessórios periféricos na minha vida. Desta vez, escolho-me a mim.

by fiona bacana

Um banho de Deus

Vistas e revistas as coisas, é a percepção de esperança que distingue os que não se deixam manietar pelo joguinho maquiavélico ao qual nos habituamos a chamar vida. Esquizofrenia colectiva? Pois claro, somos todos, vivemos nos nossos mundinhos imundos e, no fundo, não queremos mais nada. O tamanho da cisão é imediatamente proporcional à felicidade quimicamente induzida.

by fiona bacana

(foto de sesimbra, o meu palco de férias de adolescência e..de sempre...lá estarei de novo!)

É hoje (a few hours and counting!)

«Partir andar, eis que chega
Essa velha hora tão sonhada
Nas noites de velas acesas
No clarear da madrugada

Só uma estrela anunciando o fim
Sobre o mar sobre a calçada
E nada mais te prende aqui
Dinheiros, grades ou palavras

Partir Andar,
Eis que chega
Não há como deter a alvorada
Pra dizer, um bilhete sobre a mesa
Para mandar o pé na estrada
Tantas mentiras e no fim
Faltava sempre uma palavra
Faltava quase sempre um sim
Agora já não falta nada

Eu não quis, te fazer infeliz, não quis.... Por tanto não querer, talvez quis...

Partir andar, eis que chega
Essa velha hora tão sonhada
Nas noites de velas acesas
No clarear da madrugada
Só uma estrela anunciando o fim
Sobre o mar sobre a calçada
E nada mais te prende aqui
Agora já não falta nada...
Não falta nada... »

Zélia Duncan 'Partir, Andar'

by fiona bacana

Thursday, August 04, 2005

Where West meets East (I wish...)

«I wish I was a neutron bomb, for once I could go off
I wish I was a sacrifice but somehow still lived on
I wish I was a sentimental ornament you hung on
The christmas tree,
I wish I was the star that went on top
I wish I was the evidence, I wish I was the grounds
For 50 million hands upraised and open toward the sky

I wish I was a sailor with someone who waited for me
I wish I was as fortunate, as fortunate as me
I wish I was a messenger and all the news was good
I wish I was the full moon shining off a camaro’s hood
I wish I was an alien at home behind the sun

I wish I was the souvenir you kept your house key on
I wish I was the pedal brake that you depended on
I wish I was the verb ’to trust’ and never let you down
I wish I was a radio song, the one that you turned up

I wish...I wish...»

Wish - Pearl Jam

by fiona bacana (2 days and counting)

Wednesday, August 03, 2005

Obsessiva, eu?!

Há 4 noites que durmo mal. Pronto, ok, pior do que o costume.

Não por causa de nenhuma tragédia, não por alguma dor específica (embora esta laringite de verão seja tudo menos conveniente), não por alguma coisa que me faça virar de um lado e de outro.

Simplesmente acontece porque troquei de televisor. E este novo televisor, cheio de funcionalidades inúteis (só falta fazer as compras de supermercado por mim, essa é que era), já não tem a hora no visor. E, por essa razão, acordo durante a noite, como é costume, mas agora já não sei que horas são. E como não consigo acordar sem saber que horas são (obsessiva, eu?!), procuro o telemóvel, ligado 24 horas por dia (obsessiva, eu?!), com só um olho aberto para não acordar totalmente (obsessiva, eu?!). Não consigo encontrar o telemóvel em cima da mesinha de cabeceira só com um braço e só de um olho aberto, pelo que sou obrigada, há 4 noites, a ligar a luz. E pronto, lá se vai o sono.

Como uma porcaria de um visor tem este impacto numa das minhas necessidades mais básicas. É que dormindo mal, fico - ainda mais - insuportável. Ridículo. Obsessiva, eu?!

by fiona bacana

Tuesday, August 02, 2005

Take it away, Rio

Please tell me
It's going to be a new day
a new dawn for those who have sworn -to-uphold
Please tell me
There's a reason for all this
that what i've experienced won't-be-dismissed

Ch:
Why can't we
go back and be what we were
how we laughed
like those laughs were all-that-mattered

Please tell me
there's a light at the end of the tunnel
That i don't have to say goodbye
That i don't have to hurt and make-you-cry
Please tell me
there's a future for me
the future i forgot how-to-see
Please tell me
my emotions will carry on
they're not my enemies (and) they're not-my-drug

Ch

Please tell me
That though things are not the same
they'll be the same somehow
Differently the same somehow
Raced off the track
people passing me by

by fiona bacana

Suicídio literariamente assistido

É incrível a quantidade de pessoas sós. Não há nada a fazer: arrastam-se em iguais doses de desespero e complacência. Varrem a cidade munidos de livros, jornais e revistas. É a arma com que tentam combater a solidão. O que a maior parte deles não sabe, ou amaldiçoa o dia em que souber, é que a arma com que se defendem é a mesma arma com que se matam a eles próprios. É um suicídio literariamente assitidos. Nada mais.

É uma chatice, é um facto. Não podem andar sempre sob escolta. E afinal os livros, as revistas e os jornais e as músicas que os amparam, não são nada mais do que uma forma inferior de existência. A vertigem de uma música poderosa pode fazê-los viver, por meros instantes, instantâneos e instintivos momentos de uma descarga quase vulcânica que parecem desconhecer, mas que os faz acelerar o passo e o batimento cardíaco. Mas eles, sobretudo eles, os sós, os isolados, os que necessitam de estar sozinhos para sobreviver, sabem no fundo, bem lá no fundo, que não há justificação (a não ser a própria incompetência) para passarem tanto tempo sozinhos - perante os olhares indiscretamente íntimos dos que os rodeiam e sabem desta sua entropia.

E, depois, distorcem-se. Procuram, incessantemente, uma teoria pessoal qualquer que os alivie desta sua displasia existencial. Olham para as pessoazinhas estúpidas, habituam-se a pensar que elas - coitadas! - nem pensam muito bem no que fazem e muito menos no que dizem, mas a verdade verdadinha é que as pessoazinhas estúpidas são eles. Habituam-se a controlorem-se com os cenários mais ou menos decadentes dos livros que têm e preferem-nos, de longe, aos cenários mais ou menos decadentes das suas próprias vidas.

Porquê? Boa pergunta. Mas acho que nem eles sabem.

by fiona bacana

Monday, August 01, 2005

Fiona Bacana recomenda

Exposição de André Princípe (ou mais um a sair da psyché lândia)
Siloauto - Norteshopping
http://www.norteshopping.pt/mainsite/newsletter/newsletter.aspx?id=3&menu=13&active=0

Tunnels é a primeira série de uma trilogia que aguarda por Walls e Bridges.

«Tunnels é precisamente o que anuncia: uma viagem de febre pela cidade, por muitas cidades, progressivamente obsessiva, obsessivamente alheia ao reconhecimento dos lugares e dos tempos. Uma viagem de fotógrafo, onde a procura persistente nos labirintos desvendados vai ancorar e perder-se na procura de si mesmo. Não são pois imagens do museu imaginário, mas estranhezas que não nos são oferecidas: só se exprimem e solicitam o nosso significado quando as frequentamos, violamos o seu espaço, bem dentro do corpo sem órgãos que denunciam. Porque não se trata aqui de representar lugares, geográficos e humanos, apenas atmosferas e emoções, envolvidas na dúplice inteligibilidade com que nos regulamos, e dar nome a estas imagens exige esforço, exige acompanhar a história que contam quando inquiridas, quando suspendemos o passo e galgamos a brecha que nos separa. Mas é tão absurdo como inevitável recuperar o sentido com que o fotógrafo as marcou, o reflexo de si e do seu tempo e lugar. »

Todas as fotografias. Todas. Todas elas prenes de. Todas elas tresandam. A fragmentos e fatias emocionais.

by fiona bacana

Antecipando as férias de Verão (4 days and counting!)


«Como são nocturnos certos cheiros e ruídos; como há bichos nocturnos e flores que não se abrem de dia; como há pensamentos tão claros que só à noite se percebem.»

Chico Buarque in Estorvo

by fiona bacana

Estorvo - Parte I (Let your heart sour so it can reborn)

«Enchendo-se de ódio, e sofrendo de um outro ódio para não entender que ódio cruzado é aquele que o domina, e que é feito de muita humilhação e que é desprezo ao mesmo tempo»

Chico Buarque in Estorvo

ou

como às vezes o ódio pode ser um motor de energia destruidor à escala universal, até do que se julgava inultrapassável. Como o ressentimento pode ser estratégica e laboratorialmente criado, ampliado e exponenciado, para fazer destruir todos os obstáculos.

by fiona bacana