Três e uma da manhã, neblina cerrada. Marca o passo pelas linhas do passeio, verifica, pela enésima vez, em que bolso está o telemóvel. Depois, as chaves de casa. A questão é: para que casa ir?
Entra no táxi e murmura uma direcção, perante o ar incerto do taxista. Fascinantes, estas pessoas, sobretudo os que deixaram a carreira diurna e se dedicam a transportar as alminhas que pairam na noite, com o tanto de enfermo e discutível que tal amostra tem.
É como um exercício de transformismo. Toda a gente esconde alguma coisa: rugas, estrias, mágoas, incertezas, borbulhas, nódoas negras. O exercício, supostamente de descamação, orienta-se agora pelo pólo oposto: quanto mais base, quanto mais camadas na pele, melhor. Mesmo os mais naturalistas concordam, porque nem eles aguentam com tanta natureza. Sobretudo quando ela é contundente, brutal no seu descaramento e torna tão claro e evidente que …
Gritava, sintetica e silenciosamente como é seu timbre, outro dia, numa varanda: até seria capaz de ser eu própria, se quem me rodeia me perdoasse a decepção.
Passa por luzes de lampião que só tornam a visão ainda mais turva. Deita fora a pastilha elástica que engolia, porque a menta tem uma sobrevivência limitada. Agora o estômago dá voltas, reagindo tipo ácido com os shots que bebeu. Sentiu um impulso para controlar-se. Abre os olhos e o vidro, apanha ar, na esperança de ficar bem acordada. Como se sentisse obrigação. Só depois se lembra que já não tem essa obrigação.
by fiona bacana
Monday, June 13, 2005
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